quinta-feira, 26 de maio de 2016

MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA - O CRIVO DA GLÓRIA DE DEUS

Pouco se ouve falar sobre o que os reformadores pensavam e aplicavam em seu cotidiano como também no culto solene em relação à música. Erroneamente, muitos pensam que os reformadores eram avessos à arte e à música. 

Ao contrário, eram sensíveis e dedicados à produção de riquíssimas obras, em especial, à música com alto nível e qualidade em seu conteúdo e performance. Salomão Franck, mesmo não sendo um reformado estrito e sim um luterano (1659 - 1725), um jurista em Weimar (Alemanha), mas também um homem dado a poesia, foi ele o autor de grande parte dos textos originais da mais famosa cantata de J. Sebastian Bach intitulada "Corações, boca, ações e vida" (BWV 147). 

Martin Janus, que também fora contemporâneo de Bach e Franck, foi pastor, poeta, músico e diretor de música de diversas igrejas protestantes, dentre estas, muitas calvinistas. Para nossa surpresa foi ele o autor do texto original da mais famosa música da cantata: "Jesus, alegria dos homens" (10º movimento desta cantata). Diante disto, Como alguém pode afirmar que os reformados não eram sensíveis a arte?

O exemplo destes dois homens não só mostram que eram hábeis, mas também zelosos e criteriosos no uso desta ferramenta poderosa que age diretamente na consciência do homem. Eles sabiam que a mente humana não poderia ser contaminada com pensamentos e conceitos frívolos e mundanos. A única mensagem que deveria reinar sobre a consciência de uma pessoa cristã era a Palavra de Deus. Concernente à música, o próprio reformador João Calvino  disse que "existe raramente no mundo qualquer coisa que seja mais capaz de virar e corromper os homens do seu caminho e da sua moral." 

Por isso, me proponho de forma simples e objetiva expor uma série intitulada - MÚSICA NA PERSPECTIVA REFORMADA apontando alguns critérios que eram e ainda são claros e muito bem explicitados na vida e  devoção dos reformadores, como também na de seus sucessores ao longo de pelo menos três séculos (desde o século XVI até o final do século XVIII). 

Se somos os herdeiros diretos deste sistema de vida e de sua teologia é necessário, portanto, conhecer a música em sua perspectiva reformada. Muitos que se declaram calvinistas ou presbiterianos não tem conhecimento suficiente de como deveríamos aplicar este poderosíssimo recurso de forma correta e bíblica no cotidiano e principalmente no culto solene. Sendo assim: 

O primeiro ponto que percebo ser claramente um critério inegociável é: o princípio de que tudo deve ser feito para a glória de Deus. Não foi mera coincidência que os ‘divines’ da assembleia de Westminster colocaram como primeira questão a seguinte pergunta: QUAL É O FIM PRINCIPAL DO HOMEM?

Com a devida precisão e profundidade a resposta é muito simples: o fim principal do homem é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Veja que não é algo muito difícil de entender. Em geral, a preocupação dos reformadores era ressaltar em seus hinos e cânticos a beleza e a santidade do Senhor. Lembrar da bondade e das misericórdias do Senhor como também a sua grandeza, o seu poder e a sua majestade. 

Os artistas que por convicção eram reformados tinham em suas obras o registro notório de apenas um tema: a glória de Deus. Como faziam isto? Simples!  Basicamente, o que eles tinham em mente não era retratar, pintar ou esculpir  a Trindade. Aliás, isto foi muito explorado pela visão romanista na arquitetura, pintura e escultura. Um artista reformado sabia que deveria estar atento em não quebrar o primeiro e segundo mandamentos. 

Por exemplo, um pintor retratava em suas telas cenas do cotidiano como: família ao redor da mesa no momento da refeição, as boas conversas, as paisagens naturais, as plantações, as colheitas, mães cuidando de seus filhos, o Dia do Senhor, ou seja, tudo isto tinha um único objetivo: A gratidão. O tema central de todas as expressões artísticas era o contentamento com a providência e a graça de Deus.

Com respeito ao uso da música no cotidiano, os reformadores, não desprezavam a sua diversidade e riqueza. Na verdade, eles eram bem atentos ao espírito de sua época que por sua vez era influenciado pelo Renascentismo e  Barroco. Os reformadores não deixariam de ouvir uma boa música ‘secular’ ou popular se, em toda a sua estrutura melódica, estética e  conteúdo, glorificasse a Deus e fosse proveitoso à sua santificação, se esta música o levasse ao regozijo não de suas vontades pecaminosas, mas, o gozo de uma alma grata, satisfeita e contente com o cuidado de Deus em sua vida.

Mais precisamente, este é um princípio que nos reporta ao conteúdo dos cânticos e hinos que deveríamos cantar no culto solene. De forma contundente a minha afirmação sobre este ponto é muito simples, porém de suma importância – Os hinos e os cânticos espirituais devem em toda a sua temática nos remeter de forma direta e objetiva à glória de Deus,  Sua majestade,  Seus atributos,  Sua benevolência e graça para conosco, Sua justiça e todas às Suas obras.  

Por exemplo, toda a temática de uma música deve ser conduzida por este princípio. Ou seja, um hino que fale de provações o foco não é o sofrimento, mas a glória de Deus, porque o que nos consola diante de uma oração cantada não é falar do sofrimento em si, mas nos gloriarmos na esperança da glória de Deus (Romanos 5: 2).

Hinos e cânticos que falam de qualquer assunto, mesmo que mencionem textos da Escritura ou que nos reportam a qualquer contexto, história e doutrina que estejam na Bíblia, mas não lançam nossos pensamentos e coração à glória de Deus, não devem fazer parte da nossa adoração pública, e diria até mesmo que tais músicas não deveriam fazer parte de nosso gosto pessoal. 

Portanto, isto cabe em todos os outros casos. Se cantarmos salmos, hinos e cânticos que mencionem qualquer doutrina da Escritura, tais letras devem sempre fazer com que nós falemos, oremos e pensemos sobre a glória de Deus. Aliás, me adianto em dizer que os reformadores eram precavidos quanto a este ponto. Para evitar este problema, eles apenas cantavam a Escritura. Não há sequer qualquer texto da Escritura que não nos reporte de forma direta à glória de Deus e o louvor a Ele. Por isso, se desejamos evitar as heresias e as profanações em nossas músicas, apenas devemos cantar o que está na Escritura. 

Em breve próximo artigo. 






4 comentários:

  1. Parabéns pelo artigo e iniciativa em abordar este assusto partindo da perspectiva reformada. Numa época tão escassa de Bíblia no conteúdo de nossas músicas em nossos cultos voltarmos às nossas origens é questão de sobrevivência.

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  2. Parabéns pelo artigo e iniciativa em abordar este assusto partindo da perspectiva reformada. Numa época tão escassa de Bíblia no conteúdo de nossas músicas em nossos cultos voltarmos às nossas origens é questão de sobrevivência.

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  3. Obrigado! Apenas tentando contribuir com alguma coisa. Continuemos na luta caro nobre! Ainda tem esperança!

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