segunda-feira, 17 de junho de 2013

O DECLÍNIO MÚSICAL DA IGREJA

Na Revista “Carta Capital” de 6 de fevereiro de 2013, a reportagem de capa trata do vazio da cultura ou a imbecialização do Brasil. Apesar de forte a expressão usada nesta edição, ainda sim, fala a mais pura verdade que dá um diagnóstico óbvio do nível cultural e intelectual da nossa sociedade. Já se passaram quase 70 anos e não há mais escritores, artistas e pensadores que influenciaram gerações e definiram o pensamento e a cultura da sociedade brasileira.

Bom, o que dizer da própria igreja evangélica brasileira que está inserida neste processo? O culto geralmente acaba sendo a vitrine de como se encontra a igreja espiritualmente e por implicação, culturalmente. Até porque, o culto reflete a teologia (o que se crê), a conduta (a vida moral) e a dinâmica (a estrutura e governo eclesiástico). Neste sentido, a doutrina, a moral e o governo são áreas refletidas na forma mais pública e notória que é a adoração do povo de Deus à sociedade de modo geral.
No que diz respeito a música considerada cristã no mercado evangélico brasileiro o que podemos dizer? Pelo menos para mim vai de mal pior. Estamos perdidos se dependermos exclusivamente dos atuais artistas da música gospel. Este segmento está no estágio de putrefação tão avançado que sem medo de errar a grande maioria destas músicas são consideradas inapropriadas e nocivas não apenas aos evangélicos, mas a qualquer pessoa exposta a estas porções venenosas. O interessante é que todos sentem o forte odor destas cloacas, mas parece que quanto mais fede mais eles gostam (uma obvia constatação da depravação total do homem em Romanos 1: 21-32). 

 Do que é possível detectar trata-se inicialmente de uma pandemia da estupidez e de ignorância tanto de conteúdo bíblico como de conhecimento geral, ou seja, o problema é de ordem espiritual e intelectual. O que pode ser mais interessante neste processo “evolutivo” é o fato de praticamente todos os segmentos do cristianismo terem sido contaminados inclusive os católicos romanos. Mas, se tratando dos evangélicos, a fonte de toda está coacla não só no Brasil, mas em todo o ocidente tem sido predominantemente entre os que alguns séculos atrás foram chamados de protestantes.

Toda ignorância na igreja começa com desvios doutrinários. Não se pode evitar está calamitosa situação quando uma igreja ou um pastor opta por abrir mão de qualquer doutrina ou teologia que seja das Escrituras Sagradas. Pior ainda quando estes abandonam e ainda fazem questão de adulterarem aquilo que é essencial na fé cristã. A teologia liberal foi um histórico exemplo. Bastou alguns teólogos do século dezoito afirmarem que a Bíblia não poderia ser considerada a Palavra de Deus e que seu conteúdo, a fonte e a forma de sua revelação são questionáveis que a partir deste momento, a Igreja de Cristo reiniciou mais uma longa fase de deterioração espiritual e intelectual.

Já que tocamos neste assunto, A maioria das músicas cantadas em nossos cultos estão sob forte influência do pragmatismo e relativismo religioso presente no pensamento evangélico. Um exemplo claro disto primeiramente quanto ao formato dessas músicas na liturgia. Em geral, os estilos musicais aplicados são mais agitados, envolventes e provocantes. As letras estão recheadas de exigências e petições sem cabimento a Deus. Geralmente, os anseios espirituais contido nos cânticos expressam o desejo de olhar para Deus, tocar em Deus, de beijá-lo, abraça-lo e sabe lá o que mais querem fazer com o SENHOR. De alguma forma, estes cânticos estão propondo uma prática religiosa já estimulada entre os grupos que pregavam uma espiritualidade baseada na experiência pessoal e não no conhecimento das Escrituras. Entre eles estão os Quakers (em português os “tremedores”) foi este grupo que por varias vezes agendaram a volta de Jesus e o arrebatamento da igreja. Eles acreditavam que todo crente era capaz de sentir e também ouvir a voz de Deus literalmente. Na segunda metade do século dezessete outro movimento que enfatizava a experiência religiosa e as novas revelações era o pietismo na Alemanha. Alguma semelhança em nossas dias?

Mas é necessário chamar a atenção a uma outra questão. Tanto dentro como fora da Igreja, estamos experimentando uma decadência em diversas áreas da sociedade. Devemos reconhecer que, enquanto alguns setores estão progredindo, no entanto, outros estão definhando. Enquanto o mundo tem avançado tecnologicamente e cientificamente, a arte, a literatura, a cultura, o pensamento seja filosófico ou humano estão cada vez mais pobres.

Como declara Mino Carta diretor da Revista Carta Capital:

Nos últimos dez anos o País experimentou inegáveis progressos econômicos e sociais, e a história ensina que estes, quando ocorrem, costumam coincidir com avanços culturais. Vale sublinhar, está claro, que o novo consumidor não adquire automaticamente a consciência da cidadania. Houve, de resto, e por exemplo, progressos em termos de educação, de ensino público? Muito pelo contrário.

Talvez estejamos experimentando um dos momentos mais triste da história da humanidade. A idade média foi chamada de o período das trevas por ter impedido que grande parte das pessoas tivessem acesso a uma das maiores riquezas que o ser humano pode receber; o conhecimento. Contudo, na pós modernidade parece que a própria humanidade está jogando na lata do lixo todo o conhecimento legítimo e verdadeiro e isso vem acontecendo de forma gradativa ao longo do século vinte e vinte e um. Nem mesmo os inquisidores da idade média tiveram a ousadia e a petulância de cometer tal atrocidade.

A sociedade pós moderna que tem como seu ídolo o secularismo são mais violentos do que foi a igreja medieval até o século dezesseis. E de fato, faz parte da índole desta sociedade através do relativismo, pragmatismo e o pluralismo religioso tentar desfragmentar e aniquilar todo o conhecimento a partir do estabelecimento da verdade. Pelo menos na idade média ainda se tinha um referencial de verdade absoluta. Nos dias de hoje as pessoas valorizam mais a mentira do que a verdade.

E a Igreja de Cristo neste processo? Simplesmente acompanha o espirito de sua época como foi também nos dias da idade média. Mais uma vez entramos em declínio intelectual a ponto de transformar verdades fundamentais da fé cristã em métodos de crescimento numérico das igrejas locais, sermonetes de auto ajuda para provocar coceira nos ouvidos das pessoas e músicas que deixam as pessoas dopadas como que em transe por terem ingerido alguma droga pesada chamada positivismo misturada com outras substancias pesada como o existencialismo e narcisismo. Creio que uma prova clara disto é a arma mais pesada desta guerra usada em nossos dias; a mídia por meio da TV e da Internet. Há vinte anos atrás seria inconcebível cantores e músicos evangélicos sequer associarem seu nome e ministério a televisão. Hoje a maior emissora da América Latina (Rede Globo) tem projetado em grande proporção os mais variados artistas com seus mais esquisitos e aberrantes gostos e conteúdo musical gospel. E a Igreja neste processo? Simplesmente estão usando este lixo de cultura chamada música gospel em seus cultos solenes. Que tristeza! Como os crentes estão se vendendo por tão pouco!

A música é um recurso fantástico para que o povo de Deus possa expressar a luz das Escrituras suas experiências com Cristo, ou seja, aplicarem de forma adequada e saudável os princípios da Palavra de Deus as diversas circunstâncias da vida. Todavia, infelizmente a música se tornou útil apenas para o entretenimento religioso. Desta forma, a música também acaba sendo um dos espelhos que revelam como está o nível da devoção pessoal e as experiências religiosas de cada membro do corpo de Cristo. Com o tipo de música que ouço na boca do povo já dá para perceber como anda a vida espiritual e intelectual delas.

Em seu editorial, Mino Carta faz uma citação importante sobre o declínio cultural da sociedade brasileira e também aplico ao declínio musical da Igreja. O escritor e compositor italiano do século vinte, Fabrizio André, certa vez escreveu em uma de suas poesias: “Nada nasce dos diamantes, do estrume nascem as flores. E do deserto?”