foto original do site Desiring God. |
Robert, de Columbia, Carolina do Sul, pergunta: Pastor John, gostaria de saber se em algum momento é necessário separar as crianças dos adultos para alguma sala no momento do culto. Nossa igreja tem enfrentado este problema, pois muitas famílias têm crianças de 5 anos que são barulhentas. Temos 3 crianças com idades diferentes e com necessidades especiais na igreja (como autismo e síndrome de Down).[2] O Problema é: A maioria dos professores do departamento infantil querem entregar as crianças aos pais por se sentirem limitados em controlar o comportamento de seus filhos e porque desejam participar do culto com os outros adultos. O que deveríamos fazer?
John Piper responde:
Eu espero que haja um líder muito corajoso em sua igreja porque lideres fracos
nunca serão capazes de suportarem as críticas que virão se você tentar fazer o
que vou lhe sugerir. Quando vim para a Bethlehem como pastor em 1980 uma das
primeiras controversas que tive de lidar foi sobre as crianças no momento do
culto. Até então não tínhamos muitas crianças, mas, aos poucos o número delas
aumentou significativamente. Todos indagavam: O que vamos fazer? Não seria
melhor um sermão infantil no meio do culto? Mas, e o atraso de 3 minutos até as
crianças irem a frente? Então, não seria melhor um momento separado de adoração
só para elas? E quando elas completarem 13 anos e tiverem que retornar ao templo?
O que vamos fazer?[3]
Desta forma, eu e minha esposa Noel, resolvemos escrever um artigo
para todos os membros de nossa igreja argumentando que não existia uma igreja
de crianças separada dos adultos. e sendo assim, não deveria existir sermões
infantis no momento do culto. Naquele momento nos sentimos fortes o suficiente para tratarmos deste assunto com nossa igreja porque estávamos seguros do que era correto. Por isso entendemos também que os pais e responsáveis pelas suas
crianças com menos de 4 anos deveriam fazer é estar junto com elas no momento
do culto. Sendo assim, nós oferecemos um berçário para ajuda-los na orientação
e preparação de seus filhos pequenos na participação do culto solene. [4]
Esse artigo está no site do Desiring God intitulado:
“A família: juntos na presença de Deus” (The
Family: Together in God’s Presence). Vou mencioná-lo aqui, mas, prefiro
não entrar no mérito desta questão de: como controlar as crianças no momento do
culto? Essa foi a parte que minha esposa escreveu. Sendo assim, espero que o
que vou dizer seja suficiente para lhe provocar e ao menos atrair a sua
atenção, para que você mesmo procure no site o artigo e leia o que a minha
esposa escreveu sobre este ponto. Mas, a grande questão disso tudo está no
conceito de culto, de paternidade e de como as coisas são ensinadas as nossas
crianças.
Por isso, deixe-me compartilhar alguns pensamentos que estão
neste artigo. A adoração centrada em Deus é extremamente importante na vida
familiar e na vida da igreja. Nos meus 33 anos de pastorado sempre nos
aproximamos do culto dominical da manhã com enorme expectativa e seriedade.
Pense em uma alegria séria, uma alegria reverente e profunda. Sempre fomos um
povo alegre em Bethlehem. Contudo, procuramos evitar no culto tudo aquilo que é
irreverente, trivial, desordenado e agitado. Nem todos os cultos são agitados. Penso
que o domingo pela manhã é como estar no momento da transfiguração, ou seja, um
lugar incrível de glória onde você prostra o seu rosto quase que sem palavras na
presença de Deus. Da mesma forma no domingo a noite, no culto de quarta-feira,
seja qual for o dia. É como o monte das Oliveiras, um lugar familiar onde Jesus
se assentou ensinou sobre diversas coisas aos seus discípulos. Da mesma forma
deve ser também com a igreja.
Nós nunca tivemos um sermão infantil como parte do culto de
domingo de manhã. Acreditamos que embora um sermão infantil possa ser divertido
para as crianças, mas, ao longo do tempo isto enfraqueceria o aspecto
espiritual e a seriedade da adoração solene. “Há tempo para tudo” (ver Eclesiastes
3: 1) e isto é fundamental. As pessoas acham que tudo tem que ser colocado no culto
de domingo de manhã ou que deveríamos levar as crianças para fora da igreja
para o momento delas. Entendemos que pelo menos por
uma hora de tantas horas na semana deveríamos manter o máximo de reverencia e
solenidade.
Mesmo que já tenha dito isso, eu vou repetir mais uma vez
até porque gosto desta frase: Deve haver uma intensa e contínua reverencia
neste momento. É claro que este argumento vai trazer o peso da responsabilidade
aos pais que realmente amam este encontro com Deus na adoração e realmente
querem que seus filhos cresçam e aprendam estar no mesmo ambiente que eles. Por
isso, o maior obstáculo para as crianças no culto são os seus pais que não
prezam pela sua própria adoração. Eles não amam o culto. As crianças sentem a
diferença entre dever e prazer. Elas sabem se seus pais amam estar no culto.
Portanto, a primeira
e a mais importante tarefa de um pai é desejar ardentemente a adoração a Deus. Qualquer
sensação de estar neste momento apenas pelo dever, ou pela mera obrigação, ou
qualquer outra razão que não seja o amor pela adoração, as crianças sabem disto
e elas vão odiar estar ali tanto quanto você também odeia. Você não pode dar
aquilo que não possui. E é isso que eles vão receber de você. Você quer que
eles aprendam o que é um culto autentico. A adoração autentica, verdadeira é a
coisa mais valiosa na experiência humana. Pense nisso. O efeito acumulativo de
650 cultos com a mãe e o pai em uma autentica comunhão com Deus e o seu povo
com seus filhos de 4 à 17 anos de idade não tem preço. Isto é incalculável!
O objetivo é que as crianças aprendam a amar o culto. Que
aprendam a adorar a Deus com paixão por verem seus pais desfrutando disto,
semana após semana. Qual seria o impacto se as crianças vissem seus pais
durante 12 anos seguidos com as mãos no rosto orando, contritos se preparando
para o culto no momento do preludio? Qual seria o impacto se elas vissem sua
mãe e seu pai radiantes de alegria em entoar louvores a Deus? Pense nisso. Milhões
e milhões de crianças não veem seus pais cantarem e muito menos cantarem os cânticos
alegres em adoração a Deus. Me parece que algo está muito errado quando os pais
entregam seus filhos, exatamente na idade que estão em processo de formação a
companhia de outras crianças e adultos para terem seu comportamento e caráter moldado
sobre o culto ao invés de tê-los ao seu lado para que eles mesmos sejam
ensinados pelos seus pais. Por que os pais não estariam contentes pelo fato de
serem modelo para os seus filhos quando os ensinam a valorizar a adoração
alegre e reverente na presença do Deus todo poderoso?
Agora, eu sei que isso diz muito a respeito a suas mentes.
Temos que admitir: eles ainda são principiantes. Por exemplo, a língua inglesa
está em suas mentes logo que eles saem do útero. Mas nós não dizemos: “Bem,
vamos coloca-los com outras crianças que também são limitadas para que possam
aprender uma ou duas palavras. ” Não. Nós a mergulhamos em nosso idioma todos os
dias sabendo que mesmo que não compreendam 90% do que falamos, mas, pela convivência
diária temos a expectativa e esperança de que ao longo do tempo, eles
alegremente dominem o idioma da mesma forma que nós. Isto também se aplica a
adoração. Muito antes de nossos filhos entenderem o significado de cada parte
do culto, o que é lido, o que é cantado, o que é orado e pregado, ainda
pequenos já estão assimilando uma enorme quantidade de informações e princípios
valiosos sobre a adoração.
E isso é tão verdade até mesmo quando eles demonstram
estarem entediados. A música e as palavras lhe são muito familiares. Com o
tempo a letra de uma música vai se aprofundando na mente delas. Com o tempo
elas irão assimilar cada momento do culto. Mesmo que a maior parte do sermão vá
para a parte direita de sua mente, a experiência tem demonstrado que as crianças
lembram informações que foram marcantes em sua lembrança. O conteúdo das
orações, músicas e do sermão dá o privilégio único para ensinar a seus filhos
as grandes verdades da fé. Eis uma grande oportunidade. Se os pais aprenderem a
indagar seus filhos e explicar a eles o que foi cantado e falado no culto, isto
será muito mais valioso para o crescimento deles ao longo do tempo no
conhecimento sobre Deus.
O sentimento de solenidade e reverência é algo que as
crianças devem exercitar na presença de Deus. Elas devem perceber que este é um
momento sagrado e um lugar também sagrado. Esta é uma experiência que elas não
terão no culto infantil. E, infelizmente é provável que isto também não tem
acontecido com muitos adultos quando no momento da adoração consideram em
primeiro lugar as conversas paralelas e triviais, uma alegria exagerada e entusiasmo
horizontal em vez da alegria e o entusiasmo vertical. O objetivo de tudo isto é
despertá-los não apenas a ternura e a intimidade com Deus, mas também, a
percepção clara de Sua grandeza e majestade.
Portanto, estas são algumas considerações do porque é tão
importante ter os nossos filhos no culto solene. Há muito mais coisas para
serem ditas aqui. Especialmente sobre a familiaridade e a disciplina aplicada
em nossos lares para que tudo isto se torne possível. Mas, você pode ir ao
artigo e verificar com mais detalhes o que a minha esposa Noel tem a dizer
sobre esta questão do ensino e preparação de nossas crianças em casa. Como disse
anteriormente e com sinceridade, a razão de nos encontrarmos solenemente com o
Deus vivo deve ser acima de tudo o nosso amor e desejo pela Sua presença. Essa
deve ser a maior razão de nós pais em relação ao culto. E não há melhor lugar
ou hora para estarmos com os nossos filhos.
John Piper é fundador e professor do ministério Desiring God e chanceler do Bethlehem
College & Seminary. Por 33 anos serve como pastor da Bethlehem Baptist
Church, Minneapolis, Minnesota – EUA. É autor de mais de 50 livros incluindo Peculiar Glory.
Tradução livre: Rogério Bernini Junior
Do texto original
Should Children Sit Through”Big Church”?
[1]
Este artigo é um áudio transcrito do programa “pergunte ao pastor John” de uma
questão feita pelo Sr. Robert de Columbia, Carolina do Sul O ao Pr, John Piper
publicado no dia 15 de agosto de 2016 pelo site do ministério Desiring God.
[2] Veja
que a pergunta do Sr. Robert reflete os argumentos predominante a favor do culto
infantil. Em geral estes argumentos seguem uma lógica pragmática, psicologizada
e emocionalista que acabam por sensibilizar muitos a se posicionarem a favor da
separação das crianças dos adultos do culto solene.
[3]
Existem 3 posicionamentos sobre a questão da participação das crianças no culto
solene. Primeiro grupo: elas devem participar do culto solene junto com os seus
pais. Segundo grupo: Não a problema em separas as crianças em uma sala no
momento do culto principal com os adultos para que elas recebam a mensagem do evangelho
em sua própria linguagem e idade apropriada. Terceiro grupo: elas devem participar
com sues pais do culto, mas, o pastor deve preparar um sermão apropriado a
linguagem delas no momento do culto solene.
[4] É bom que se ressalte o fato de John Piper não ter eliminado os professores do departamento infantil da Escola Bíblica de sua igreja. A questão estava relacionada apenas com o culto principal do domingo em relação a participação das crianças com os pais no ajuntamento solene.
[4] É bom que se ressalte o fato de John Piper não ter eliminado os professores do departamento infantil da Escola Bíblica de sua igreja. A questão estava relacionada apenas com o culto principal do domingo em relação a participação das crianças com os pais no ajuntamento solene.
Rev. Bernini, excelente artigo. Quem sabe com John Piper falando a igreja evangélica brasileira ouça... Um abraço.
ResponderExcluirObrigado caro Ageu. Mas, eu achei interessante a posição do Piper. Apesar de serem argumentos que usam uma lógica prática ainda assim, de alguma forma, ele acabou apontando para a teologia do pacto. Falta só ele admitir e se tornar aliancista. Abraços!
ResponderExcluirMe parece que o pastor teve de tomar esta decisão por não ter pessoas preparadas para a educação infantil cristã. O verdadeiro culto infantil tem a intenção de adoração e não de entretenimento ou diversão!!! A forma de abordagem é diferente porém o conteúdo é o mesmo. Conheço vários pastores que um dia foram crianças que participaram do culto infantil!!! Então não é certo determinar que as crianças que participavam do culto infantil SEMPRE são aqueles adultos dehoje que não dão reverência ao culto solene.
ResponderExcluirCaro nobre, o contexto não foi esse (veja o texto em inglês original no link). Piper deixa claro que este assunto foi sim uma controvérsia em sua igreja e que os professores do departamento infantil não queriam mais assumir a responsabilidade com as crianças inclusive pelo desejo de participarem do culto solene. Ou seja, elas como as crianças estavam sendo privadas de uma benção concedida a todo o povo de Deus.
ExcluirSegundo, não questiono a idoneidade e seriedade daqueles que tem a pratica do culto infantil. Pelo contrário, os respeito muito claro que, se levarem a sério o seu trabalho. Contudo, o argumento para defender a prática do culto infantil deve ter respaldo bíblico.
Terceiro, a base para a necessidade das crianças no culto com os seus pais não deve a partir de argumentos pragmáticos e psicologizados, mas, a partir do que a Escritura determina. Não sei se você é membro de uma igreja presbiteriana, mas, seria interessante estudar dois assuntos que fazem parte da nossa identidade reformada: A doutrina do pacto e o princípio regulador do culto. Abraços!
Pastor, o comentário que fiz foi todo direcionado a minha percepção sobre a opinião do Piper. Não leve para o pessoal. em momento algum, pelo menos no trecho postado, percebe alguma referência bíblica. Penso que determinados entraves que alguma comunidade cristã possa ter, não devem ser levados como uma regra geral. Ha comunidades em que os seus presbíteros fazem rodízio, justamente para contornar esta situação da privação da benção. Penso que o mesmo pode ser feito com o DEPARTAMENTO INFANTIL que tem a necessidade de abdicar deste momento com os pequenos para também receber sua benção. Se o problema enfretado no texto é o efetivo que não é suficiente, bem, ai o pastor da igreja realmente terá sérios problemas porém esta não é a realidade de muitas igrejas.
ExcluirPor fim, reconheço que sou leigo no manual presbiteriano e de fato não sei qual o posicionamento oficial da igreja quanto ao culto infantil, porém temas importantes como estes devem ser suscitados e debatido para toda a comunidade cristã, penso eu. Guardar a benção só aos presbiterianos seria um pouco mesquinho( desculpe a franqueza). No mais, anotada a sugestão de leitura. Um forte abraço e fique na paz!!!
Meu caro nobre, Deivis. Tranquilize-se. Não levei para o lado pessoal o seu comentário. Pelo contrário, reitero mais uma vez o que disse: Não é apenas uma questão de "percepção sobre a opinião do Piper". Ele fundamentou sua afirmação em um princípio doutrinário mesmo que não citando um texto bíblico de forma explicita. Ainda assim, a questão da permanência de nossos filhos no culto solene não é uma questão de necessidade ou dificuldade de linguagem em relação a elas no culto, mas, é uma questão de princípio bíblico. Sobre a realidade das igrejas, não são poucas igrejas presbiterianas e até mesmo de outras denominações protestantes que não adotam esta prática e lidam com isso muito bem. A experiência em nossa igreja local, por exemplo, tem sido uma bênção. Mas, isso, é claro, demanda todo um trabalho por parte dos pais que são zelosos com a educação cristã de seus filhos e a com a prática diária do culto doméstico ou familiar. Por último, este assunto não é uma questão meramente constitucional. A Igreja Presbiteriana do Brasil é reformada e confessional, por isso ela adota o Principio Regulador do Culto. Historicamente, a prática do culto infantil nunca causou uma dificuldade a nós reformados porque nunca existiu. É algo de uns 30 anos pra cá. O que me chama a atenção no artigo do Piper é exatamente o fato dele não ser reformado (apesar de ser calvinista em alguns pontos) e ter argumentado, mesmo que de forma prática, o que os reformadores sempre prezaram. digo tudo isto no desejo de que pondere as minhas palavras e por favor, fique a vontade para se posicionar e conversarmos sobre o assunto. Abraços!
Excluireis aí um posição interessante a favor da inclusão infantil no culto... mas ainda assim... continua sendo apenas uma opinião que por mais racional e bem articulado, não interfere na prática dos que pensam contrariamente, já que não há mandamento claro sobre isso na Bíblia. Deixemos bem claro que, uma vez que a Escritura não se posiciona com clareza sobre o tema... cada igreja resolve o assunto com bem lhes parecer seguindo sempre os lemas do bom senso, amor a próximo e, principalmente, a reverência a Deus no culto.
ResponderExcluirLer esse artigo do pastor Piper despertou em mim o sentimento e o pensamento da majestade de Deus. Nós precisamos ser impregnados dela. A reunião em culto não é algo meramente humano: estamos diante do Deus vivo! Nossas crianças precisam "desesperadamente" ser envolvidas e tomadas por essa visão e sentimento da grandeza, glória e beleza do nosso Deus. O culto solene é fundamental para a nossa vida, família e sociedade.
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